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As deusas múltiplas
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As dez Mahavidyas

A DEUSA SUPREMA (MAHĀ DEVĪ)

No pensamento indiano existem muitos seres divinos (devas e devīs), masculinos e femininos; e um Ser Absoluto (neutro), que é Brahman. Todas as divindades, como Brahmā, Viṣṇu e Śiva, são manifestações de Brahman, não são independentes dele. Brahman está além da compreensão conceitual e racional, mas é descrito como tendo a essência da existência ou realidade (Sat), da consciência (Cit) e da completude ou não-dualidade, que se manifesta como uma felicidade plena ou beatitude (Ānanda). De acordo com a tradição indiana, todo o universo e todos os seres são também uma manifestação de Brahman. Existem períodos em que o universo é criado, se mantém durante um certo tempo, depois é destruído – e todos os Devas também desaparecem. Quando isso ocorre, resta apenas Brahman, indiferenciado, e nada acontece. É como se tudo estivesse adormecido – é a noite cósmica, ou noite de Brahman. Depois, Brahman se manifesta, o universo começa a surgir novamente, iniciando-se um novo ciclo cósmico. Brahmā (um Deva masculino) é quem atua criando o universo, depois Viṣṇu é quem o mantém ou sustenta, e Śiva o destruirá. De acordo com essa versão mitológica, pode parecer que são apenas os seres divinos masculinos (devas) que possuem importância. Mas não é bem assim.

Segundo uma das tradições indianas (no Tantra), existe uma Deusa (Devī) que está acima de todos os Deuses. Ela é chamada de Mahā Devī (a Grande Deusa), ou Śakti (a Poderosa ou a Potência). Sua característica principal, como o seu próprio nome diz, é o Poder. Ela é ativa, dinâmica, é considerada como a energia que move todo o universo (inclusive os Devas). Em comparação com ela, os Devas são inertes, inativos, passivos. Nessa visão, temos um conceito exatamente oposto ao que se desenvolveu no ocidente (e em outros lugares, como a China), segundo o qual a energia ou atividade seria uma característica masculina e a receptividade ou passividade seria uma característica feminina.

Podemos encontrar alguns aspectos dessa concepção indiana na filosofia Sāṅkhya, por exemplo. De acordo com o Sāṅkhya, existem dois princípios cósmicos fundamentais. Um deles é a consciência ou essência do ser humano (Puruṣa), que é um princípio masculino; o outro é o poder da natureza (Prakṛti), que é um princípio feminino. Puruṣa é passivo, Prakṛti é ativa. Todo o desenvolvimento do universo ocorre apenas por causa dos poderes da Natureza. Esses poderes (guṇas) são três: tamas, rajas e sattva. Tamas é o poder da inércia, da tristeza, das trevas, da morte; rajas é o poder da vitalidade, do ego, da força, do prazer e da violência; sattva é o poder da luz, da felicidade e da sabedoria. Os três devas principais do hinduísmo (Śiva, Brahmā e Viṣṇu) estão associados respectivamente a esses três poderes (tamas, rajas, sattva). De acordo com o Tantra, esses devas são seres que só podem atuar no universo porque a Grande Deusa lhe empresta uma parte de seu Poder. Nenhum deles tem todo o poder da Śakti.

A mitologia indiana tem muitas histórias que mostram que os devas não são tão poderosos quanto a Śakti. Em alguns mitos, um demônio (Asura) muito poderoso vence todos os Devas (masculinos) e eles vão então pedir ajuda à Grande Deusa, que assume uma de suas formas mais terríveis (como Durgā ou Kālī) e destrói todos os demônios.

A Śakti, ou Mahā Devī, é o poder feminino absoluto. Há, no entanto, muitas deusas (devīs) diferentes. Cada um dos devas tem sua companheira (sua Śakti), sem a qual ele é incompleto. A Śakti de Brahmā é Sarasvatī, a de Viṣṇu é Lakṣmī, a de Śiva é Pārvatī. Essas Devīs são manifestações ou aspectos parciais, limitados, da Grande Deusa. No entanto, muitas vezes se identifica Pārvatī com a própria Śakti. Embora Śiva seja um Deva muito poderoso, ele não é nada, comparado com a Śakti. Ela é ativa, ela tem todos os poderes, ele não tem nenhum poder sem ela. Por isso, muitas vezes ele é representado como um cadáver acima do qual Śakti se assenta, dança, ou com o qual ela tem relações sexuais.

Enquanto Śiva e Śakti estão separados, o universo é dinâmico, ele se transforma, está ativo. Quando Śiva e Śakti se unem e se fundem em uma unidade, toda multiplicidade desaparece, o tempo fica paralisado.

De acordo com o Tantra, a Śakti, o poder feminino, está presente em todas as coisas e todos os seres do universo – mas de forma muito mais forte e significativa nas mulheres. Da mesma forma, Śiva, seu complemento masculino, está presente também em todos os seres, mas especialmente nos homens.

A doutrina da Grande Deusa não existia na tradição indiana mais antiga. No período dos Vedas existiam certas devīs importantes, mas não aparece a ideia de que há uma devī suprema, da qual todas as outras são meras manifestações ou formas secundárias. Também não existe, nesse período mais antigo, a proposta de uma devī que é mais poderosa do que todos os devas. A doutrina Śākta da unidade e supremacia da Śakti começa a surgir apenas no início da era cristã, ganhando força progressivamente, até se estabelecer como uma das mais importantes correntes do Hinduísmo. Em vários Purāṇas ela é apresentada como a Soberana ou Governante do universo (Īśvarī) e como idêntica ao Absoluto, ou Brahman. 

 

AS DEUSAS MÚLTIPLAS

Vamos apresentar a seguir algumas das principais devīs, que são formas específicas ou manifestações da Grande Deusa, de acordo com a doutrina Śākta.

Uṣas, a Aurora, é uma das mais importantes divindades femininas no período dos Vedas. Ela representa a vinda da luz para o mundo, afastando as trevas, expulsando os seres malignos e despertando tudo o que é vivo, colocando todas as coisas em movimento. Ela às vezes é descrita como uma jovem em uma carruagem puxada por cavalos dourados ou rubros, que representam os raios de luz ao amanhecer. Ela abre o caminho para Sūrya, o deva do Sol. Sua irmã é Rātrī, a Noite. Há vinte hinos do Ṛg-veda dedicados a Uṣas; nenhuma outra devī é tão celebrada, nos Vedas.

Aditi, a Ilimitada, a Infinita, a Indivisa, é uma importante devī mencionada nos Vedas. Ela é considerada a mãe dos devas solares (Ādityas). Embora seu papel de mãe divina seja um aspecto importante, ela é considerada muito mais do que isso: “Aditi é o céu, Aditi é a atmosfera, Aditi é a mãe, é o pai e o filho. Aditi é a totalidade dos devas, Aditi é a raça humana quíntupla, Aditi é aquilo que nasceu e o que ainda vai nascer.” (Ṛg-veda I,89,10). Ela às vezes é associada à Terra, ou ao espaço, por ser ilimitada ou infinita. Ela é mencionada aproximadamente 80 vezes no Ṛg-veda, embora nunca seja descrita detalhadamente e nenhum hino seja dedicado a ela. A palavra “a-diti” também significa aquela que não está presa, a liberta; por isso, Aditi é invocada como uma devī libertadora. Algumas de suas descrições indicam que ela tinha semelhança com o Ser Uno que, depois, foi denominado Brahman – o Absoluto.

Sarasvatī, “a que está repleta de águas” é uma deusa que, nos Vedas, estava associada ao mais importante dos rios, que tinha esse mesmo nome. Todos os rios ou correntezas, na tradição indiana, são femininos e estão associados a diversas devīs. Ela é chamada de melhor das correntezas (nadītamā), a melhor das mães (ambitamā), a melhor das deusas (devitamā). Ela é invocada, nos Vedas, para descer do céu e conceder vida, riquezas e honra. Ela percorre um caminho dourado e destrói os demônios. O rio Sarasvatī, que era grande e poderoso no período em que o Ṛg-veda foi composto, desapareceu posteriormente, por causa de mudanças geológicas, transformando em um deserto a região por onde passava. A partir dos textos chamados Brāhmaṇas, Sarasvatī foi identificada à Fala ou Palavra sagrada (Vāc), que nos Vedas era uma devī independente. Ela se torna, então, a deusa da sabedoria e da eloquência, sendo associada também ao conhecimento sagrado representado pelos Vedas, à música e às artes. Na literatura posterior, Sarasvatī adquire uma aparência antropomórfica, sendo representada como uma mulher com roupas brancas ou, às vezes, amarelas, com quatro braços, segurando um livro (os Vedas) representando a sabedoria, um rosário indiano (mālā) representando espiritualidade, um pote com água sagrada, representando os rios e a purificação, e um instrumento musical de cordas (vīṇā) representando os sons sagrados e as artes. Às vezes, é representada montada sobre um cisne. Nos Purāṇas, ela é apresentada como a companheira de Brahmā, o deva responsável pela criação do universo, que também está associado aos Vedas. Sarasvatī, juntamente com Lakṣmī e Pārvatī, formam a divindade feminina tríplice (Tridevī). As três, em conjunto, são celebradas no festival de Navarātri. 

Gāyatrī é o nome de uma deusa que está associada ao famoso Gāyatrī-mantra. A palavra “gāyatrī” significava, originalmente, um tipo de métrica utilizado nos Vedas, em que cada estrofe era constituída por três versos de oito sílabas. Essa era uma estrutura muito utilizada no Ṛg-Veda. Posteriormente, uma das centenas de estrofes no formato gāyatrī foi considerada como uma síntese da sabedoria dos Vedas, sendo então considerada como “a” gāyatrī. Essa estrofe (Ṛg-Veda 3.62.10), com a adição do Oṁ e de três exclamações invocando o mundo terrestre, o mundo atmosférico e o mundo celeste, constitui o Gāyatrī-mantra ou Savitrī-mantra: Oṁ bhūr bhuvaḥ svaḥ / tat savitur vareṇyam / bhargo devasya dhīmahi / dhiyo yo naḥ pracodayāt, que pode ser traduzido assim: “Oṁ! Terra, atmosfera, céu! Que possamos atingir aquele esplendor excelente da divindade [deva] estimuladora [Savitṛ]; que ele fortaleça nossa sabedoria [dhī]”. A devī Gāyatrī é uma personificação desse mantra. Ela é considerada uma forma de Sarasvatī, pois também representa a sabedoria dos Vedas. Sua representação antropomórfica tem cinco cabeças e dez braços e é representada assentada sobre um lótus vermelho. 

Śrī ou Lakṣmī é a deusa que difunde luz ou brilho. Essa deusa é mencionada nos Vedas. O substantivo feminino “śrī”, em sânscrito, significa luz, brilho, radiância, esplendor, glória, beleza, graça, encantamento. O nome desta devī também significa prosperidade, bem estar, boa sorte, sucesso, riqueza, poder, majestade, nível elevado. De acordo com a mitologia posterior, Śrī é uma deusa que surge do oceano de leite, quando os seres divinos (devas) e os demônios (asuras) o agitam para extrair o elixir da imortalidade. Como ela apareceu segurando uma flor de lótus (padma), é também chamada de Padmā. O nome Lakṣmī não aparece nos Vedas, surge na literatura posterior. A palavra “lakṣmī” significa uma marca ou sinal. Pode representar um sinal positivo, auspicioso, de boa sorte, prosperidade, sucesso e felicidade. Nesses casos, utiliza-se também a palavra composta puṇyālakṣmī (puṇya significa “bom”). Existe também a palavra composta pāpīlakṣmī, que significa um mal sinal, uma indicação de infortúnio (pāpa significa “mau”). No seu sentido positivo, a palavra pode também significar beleza, graça, encanto, esplendor, brilho. As imagens de Lakṣmī sempre a mostram associada ao lótus – assentada sobre ele, ou segurando em uma das mãos. O lótus, que floresce no meio da água lamacenta, representa pureza, sabedoria, realização e libertação. Ela é também mostrada acompanhada por um ou dois elefantes, que simbolizam poder – e que despejam água sobre ela, simbolizando pureza e fertilidade. Lakṣmī é considerada, nos Purāṇas, como companheira de Viṣṇu ou Nārāyaṇa. Como Viṣṇu tem várias manifestações ou avatāras diferentes, ela também adquire diversos nomes e formas. Quando Viṣṇu se manifesta como Rāma, ela se torna Sītā, sua companheira; quando ele é Kṛṣṇa, ela é Rukmiṇī, uma de suas esposas. Com o nome Mahālakṣmī (a Grande Lakṣmī), ela é identificada à Śakti (a Poderosa, a Grande Deusa). Às vezes ela aparece sob uma dupla manifestação, como Bhū Devī (a deusa da Terra) e como Śrī Devī (a deusa luminosa), que são os aspectos complementares dos poderes da Natureza (Prakṛti). 

Rādhā é a principal companheira de Kṛṣṇa, em diversas obras antigas. Ela é uma das pastoras de vacas (gopīs) que se apaixonam por ele. Embora não seja sua esposa, é considerada como sua Śakti e, algumas vezes, identificada como a Grande Deusa e descrita como sendo superior a ele. Assim como Śiva e Pārvatī, juntos, constituem o Absoluto, há uma tradição que considera que Rādhā e Kṛṣṇa juntos constituem a Realidade Absoluta. O amor entre Rādhā e Kṛṣṇa é descrito em algumas obras sob uma forma erótica (por exemplo, no Gītagovinda), mas tem um significado esotérico, representando um amor divino (preman) e não mundano. O amor de Rādhā por Kṛṣṇa é utilizado muitas vezes como o simbolismo da devoção (bhakti). 

Pārvatī é a Deusa da Montanha. A palavra sânscrita masculina “parvata” significa montanha. Ela está estreitamente relacionada ao Himālaya (“morada das neves”) que, personificado como o Rei da Montanha (Himarāja), é considerado seu pai. O Himālaya é também a morada de Pārvatī. Na mitologia épica e dos Purāṇas, Pārvatī é a segunda companheira de Śiva; a primeira foi Satī, que se suicidou porque seu pai Dakṣa desrespeitou Śiva durante um grande ritual. Pārvatī é considerada como a própria Satī, renascida. Pārvatī tem vários aspectos diferentes. Por um lado, ela é uma Deusa Mãe (Ambikā). Seus dois filhos são Gaṇeśa (o deva com cabeça de elefante) e Kārttikeya, o deva guerreiro (também conhecido como Skanda, Subrahmaṇya e Kumāra ou Murugan, no idioma Tâmil). De acordo com o Padma Purāṇa, ela teve também uma filha, Aśokasundarī. Como Rādhā, ela tem um forte lado erótico, descrito em obras como o poema Kumārasambhava de Kālidāsa. Muitas de suas manifestações são benevolentes, como Lalitā (aquela que brinca), Gaurī (a dourada), Umā (a brilhante). Por outro lado, ela tem também um aspecto guerreiro, sendo representada na iconografia montada sobre um leão ou tigre, recebendo nesse caso o nome de Durgā (a Inatingível) ou Caṇḍī (a Violenta). O aspecto guerreiro da Śakti é descrito no Devīmāhātmya (a glorificação da Deusa), também conhecido como Durgā Saptaśatī ou Caṇḍī Pāṭha, que faz parte do Mārkaṇḍeya Purāṇa. Na mitologia, ela adquire às vezes formas assustadoras, como Kālī (a Deusa Negra) e Bhairavī (a Terrível). Os devotos da Śakti consideram Pārvatī como a Deusa Suprema, incorporando todo o poder do universo. A união de Śiva com Pārvatī é considerada como equivalente ao Absoluto, ou Brahman. As outras devīs são consideradas como suas filhas ou manifestações e não como seres divinos independentes. Ela também tem dez aspectos complementares, as Mahāvidyās.

O nome Durgā significa “a Invencível” ou “a Inatingível”. É uma forma guerreira de Pārvatī. Ela é uma manifestação da Śakti invocada para superar situações de dificuldade e sofrimento. É representada com dez braços segurando muitas armas e seu veículo é um tigre ou um leão. Durgā é uma representação da Śakti, por isso é descrita como possuindo todos os poderes de todos os seres divinos. Na mitologia, ela surge para combater um demônio extremamente poderoso, Mahiṣāsura, que havia vencido todos os devas masculinos. Durgā é considerada como um poder autossuficiente, por isso ela não é apresentada como a esposa de Śiva. Embora seja uma deusa destruidora, Durgā é representada como bela e radiante, com ornamentos de ouro, pérolas e pedras preciosas. Na batalha contra os demônios, Durgā emite de dentro de si própria a sua forma mais terrível, Kālī, a Negra, que tem símbolos associados à morte. 

Kālī (a Negra), também conhecida como Kālikā ou Śyāmā (a Escura), é uma devī associada à morte e à destruição. Seu nome significa “a Negra”, mas também está associado à palavra Tempo (Kāla), podendo ser interpretada como o Poder do Tempo, que destrói tudo. Ela é uma forma terrível, guerreira e destruidora de Pārvatī, e é também a principal das Mahāvidyās, as dez formas tântricas da Grande Deusa. Está associada a cadáveres, ao sangue, aos chacais e aos terreiros de cremação de corpos. Seus adornos são um colar de cabeças humanas decepadas e um cinto onde estão pendurados braços humanos. Às vezes, ela é mostrada de pé sobre o corpo de Śiva, que é apresentado como um cadáver (śava), simbolizando assim que ela detém todo o poder. Na literatura tântrica, Kālī tem um papel central nos textos, nos rituais e na iconografia, sendo considerada como uma representação da Grande Deusa (Mahā Devī) ou Śakti. Embora geralmente seja mostrada sob uma forma terrível, às vezes assume uma forma jovem e bela e seus aspectos positivos são indicados, por exemplo, na expressão Kālī Mā (Mãe Kālī).

Cāmuṇḍā é o nome de uma forma destruidora da Grande Deusa, sendo uma das sete Deusas Mães (Mātṛkās) e uma das principais Yoginīs (um grupo de deusas do Tantra, que acompanham Durgā). O nome Cāmuṇḍā é uma combinação dos nomes dos demônios Caṇḍa (o Feroz) e Muṇḍa (o Careca), que ela venceu e destruiu numa batalha. Muitas vezes, Cāmuṇḍā é identificada com Kālī. Ela é cultuada com sacrifícios de animais e oferecimento de vinho. É representada com uma cor negra ou vermelha, com uma guirlanda de cabeças decepadas (como Kālī). 

Lalitā, “a que brinca”, é o nome de uma forma benigna de Pārvatī. Ela é também chamada de Tripurā Sundarī (a bela da triplicidade), Ṣoḍaśī (a de dezesseis) e Rājarājeśvarī (a soberana do rei dos reis). Pertence ao grupo das dez Mahāvidyās. O nome Ṣoḍaśī pode significar uma jovem com dezesseis anos, mas pode também ser uma referência ao mantra com dezesseis sílabas; também representa dezesseis tipos de desejos. Lalitā, ou Tripurā Sundarī, é a manifestação da Śakti cultuada na corrente tântrica Śrī Vidyā, estando associada ao Śrī Yantra e ao Śrī Mantra. Uma escritura fundamental que fala sobre o seu culto é o Tripurā Rahasya. Na iconografia, é sempre representada como uma linda jovem, geralmente com roupas vermelhas. O hino Lalitā Sahasranāma (os mil nomes de Lalitā) descreve todos os seus atributos.

As dez Mahāvidyās são um grupo de manifestações especiais da Śakti. O nome Mahāvidyā vem das palavras Mahā (grande) e Vidyā (sabedoria, revelação, conhecimento). É um grupo de dez deusas conhecidas como Deusas da Sabedoria por revelarem aspectos auspiciosos do conhecimento da Grande Deusa. Elas são: Kālī, Tārā (a protetora ou salvadora), Tripurā Sundarī (ou Lalitā), Bhuvaneśvarī (a governante do mundo), Bhairavī (a terrível), Chinnamastā (a decapitada), Dhūmāvatī (a enfumaçada), Bagalāmukhī (face de cadáver), Mātaṅgī (mulher sem casta), Kamalā ou Kamalātmikā (a essência da prosperidade). São deusas pertencentes ao culto tântrico, que estão associadas a diversos estágios de transformação e superação dos limites, por parte do praticante. Cada Mahāvidyā tem suas práticas específicas, com mantras e yantras (diagramas). 

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