TEXTO DO MÊS:
"Vāyu Purāṇa"
Tradução completa, para o português
Todos os meses colocamos à disposição de nossos leitores novos textos, na biblioteca virtual de textos de nosso site. Neste mês, apresentamos uma tradução para o português de um importante texto tradicional indiano: Vāyu Purāṇa.
Vāyu
é o nome de uma divindade (deva) hindu que é citada desde o período dos
Vedas. Vāyu significa vento. É também chamado de Vāta (que também
significa vento ou sopro), Pavana (o Purificador) e é também, muitas
vezes, utilizado como sinônimo de Prāṇa (força vital) ou como
representando o elemento ar.

Representação da divindade indiana Vāyu
Purāṇa
é o nome atribuído a um grupo de textos indianos tradicionais. A
palavra Purāṇa significa "antigo". Embora os Vedas (mais de 1.000 anos
antes da era cristã) já se referissem a essa tradição do Purāṇa, os
textos com esse nome que chegaram até nós parecem ter sido todos
redigidos depois do início da era cristã – ou, no máximo, dois ou três
séculos antes da era cristã.
Considera-se
que existem 18 textos principais desse tipo. A listagem dos 18
Mahā-Purāṇa ("grandes textos antigos") varia bastante. Uma das mais
citadas é esta: Brahmā Purāṇa, Padma Purāṇa, Viṣṇu Purāṇa, Vāyu Purāṇa,
Bhāgavata Purāṇa, Nāradīya Purāṇa, Mārkaṇḍeya Purāṇa, Agni Purāṇa,
Bhaviṣya Purāṇa, Brahmavaivarta Purāṇa, Liṅga Purāṇa, Varāha Purāṇa,
Skanda Purāṇa, Vāmana Purāṇa, Kūrma Purāṇa, Matsya Purāṇa, Garuḍa
Purāṇa, Brahmāṇḍa Purāṇa.
O
Vāyu Purāṇa, apesar do nome, não é um Purāṇa dedicado à divindade Vāyu.
É um texto que louva Śiva como a principal divindade – ou seja, é um
texto Śaiva. Tem o nome de Vāyu Purāṇa porque o texto é considerado
como uma narrativa feita pelo deva Vāyu.

Adoração de Śiva pelos outros devas
Considera-se
que o Vāyu Purāṇa é um dos mais antigos Purāṇas que foram conservados,
sendo certamente anterior ao século VI d.C., já que é citado em outras
obras dessa época. Há até mesmo uma menção ao nome do Vāyu Purāṇa no
Mahābhārata e no Harivaṁśa; isso indicaria que a obra já existia alguns
séculos antes da era cristã. No entanto, pode ser que o Vāyu Purāṇa ao
qual o Mahābhārata se refere seja uma versão diferente da que chegou
até nós.
Segundo
a tradição mais antiga, este Purāṇa teria 24.000 versos, mas a versão
que foi conservada tem 10.991 versos, divididos em duas partes com um
total de 112 capítulos. Os 9 últimos capítulos parecem ser uma adição
recente, pois o capítulo 103 (41 da segunda parte) apresenta uma
conclusão ou "fechamento". Os capítulos posteriores se referem a
autores e textos posteriores ao século VI d.C. e apresentam a
glorificação da região de Gayā (Gayā māhātmya), que aparece também em
outras obras, e contém uma tentativa de síntese dos cultos a Śiva e
Viṣṇu. Embora Śiva seja considerado como a principal divindade neste
Purāṇa, Viṣṇu também é respeitado e, em certos pontos, apresenta-se uma
equivalência entre Śiva e Viṣṇu.

O
conteúdo deste Purāṇa é muito variado, sendo quase impossível
resumi-lo. Como os outros Purāṇas, o Vāyu Purāṇa é uma obra de caráter
enciclopédico, abordando uma imensa variedade de temas. Trata sobre a
criação do universo e sobre suas fases até a dissolução final; descreve
as eras da humanidade (manvantaras) e os quatro períodos (Yuga); fala
sobre o papel das três divindades principais do Hinduísmo (Brahmā,
Viṣṇu e Śiva – a Trimūrti) nesses processos; o Purāṇa fala a respeito
de muitas divindades diferentes, descrevendo seu surgimento e alguns de
seus mitos; são descritas as quatro fases de vida (āśramas); há
informações sobre os antepassados (Pitṛs) e seu culto; apresenta as
dinastias reais de vários períodos; informações sobre várias regiões
geográficas e lugares sagrados; contém dados sobre astronomia e sobre
música; e descreve os atributos de Śiva, indicando também alguns de
seus mitos importantes. Alguns dos nomes de Śiva são: Rudra, Bhava,
Śarva, Pāśupati, Īśa ou Īśana, Ugra e Mahādeva. Há também menções ao
culto do liṅgam, à maldição de Dakṣa, à descida do Ganges e ao
nascimento de Skanda (filho de Śiva e Umā).

Um
conjunto de capítulos do Vāyu Purāṇa (capítulos 11 a 16 da primeira
parte) é dedicado ao Yoga, que é adjetivado como Pāśupata Yoga, ou
seja, o Yoga do Senhor dos Animais (Śiva). Há algumas semelhanças com o
Yoga tradicional de Patañjali, mas muitas diferenças, também. Há várias
informações sobre a importância do controle da respiração ou prāṇāyāma,
sobre posturas ou āsanas e sobre concentração ou dhāraṇā.
Há
comentários sobre os lugares e condições adequados para a prática de
Yoga, informações sobre os poderes especiais (siddhis) obtidos pela
prática de Yoga, perigos de praticar Yoga incorretamente, efeitos
benéficos e sinais positivos da prática de Yoga, obstáculos no caminho
do Yoga, a transmigração, a libertação do ciclo de renascimentos e do
efeito do Karma. Há também muitas indicações sobre os aspectos éticos
que o Yogin deve seguir, e detalhes sobre sua vida prática.

Trata-se,
portanto, de uma obra vasta e extremamente rica em informações sobre a
tradição espiritual indiana, que poderá ser consultada com proveito, e
que está agora disponível em português.
O
Vāyu Purāṇa foi traduzido do sânscrito para o inglês por Ganesh Vasudeo
Tagare. A tradução para o português, que apresentamos aqui, foi feita
por uma pessoa que preferiu não se identificar. O texto está também
disponível (sem esta introdução) no seguinte endereço:
www.4shared.com/office/KWgm8gB7/O_Vayu_Purana.html
Você pode fazer o download desta obra na biblioteca virtual de textos de nosso site.

